Em pesquisa inédita, mestranda do COPPEAD/UFRJ mapeia os principais riscos no processo de doação-transplante de órgãos e aponta os que possuem maior impacto no Brasil

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Ao observar um grande gap entre a oferta de órgãos e a necessidade estimada de transplantes no País, além das fragilidades e falhas em todo o processo de doação-transplante, a mestranda do COPPEAD, Jessica Silva de Almeida, decidiu mapear e identificar os riscos do processo de doação-transplante de órgãos nos estados brasileiros. Para tal, foram entrevistados os coordenadores das dez principais Centrais Estaduais de Transplante (CTEs, antigas CNCDOs), que correspondem a 90% do volume de transplantes realizados no Brasil (ABTO). Os riscos associados a cada atividade foram determinados e classificados a partir da aplicação da metodologia Failure Mode and Effect Analysis (FMEA), que tem como finalidade identificar como um produto, processo ou sistema pode falhar.

Na primeira etapa da pesquisa*, a pesquisadora relacionou cada atividade do processo aos riscos identificados pelos coordenadores entrevistados.  (Para melhor visualização, clique aqui Quadro 1 )

Na segunda etapa, o impacto de cada risco foi avaliado pelos entrevistados a partir de três dimensões: severidade – consequências do evento, caso ocorra; ocorrência – frequência de ocorrência do evento; e detecção – o quão difícil é detectar antecipadamente o evento. Para cada uma destas três dimensões, os coordenadores atribuíram notas de 1 a 10, analisando as diferentes atividades do processo. Os escores médios obtidos por cada risco foram utilizados para elaborar o ranking de impacto dos mesmos no processo.

Os dez principais riscos constatados, nesta ordem, foram: 1. não identificação de um potencial doador; 2. parada cardíaca durante a conservação clínica do paciente (sobrevida); 3. falha em comunicar adequadamente a morte encefálica à família; 4. recusa do paciente ou da equipe cirúrgica em aceitar o órgão; 5. não notificação ao CTEs de um potencial doador; 6. falha em abordar adequadamente a família sobre a possibilidade de doação; 7. atrasos no transporte de órgãos; 8. falha de comunicação entre hospital e CTEs; 9. erro médico ao remover o órgão do doador; 10. problemas logísticos, que impossibilitem a entrega do órgão em tempo hábil.

A importância no estágio de identificação do doador, que ficou em primeiro lugar na lista dos principais riscos, demonstra o grande impacto que esta etapa tem sobre todo processo, já que os potenciais doadores nem sequer são identificados ou notificados aos CTEs, inviabilizando que o processo de doação-transplante se inicie. O alto risco de parada cardíaca, que ocupa o segundo lugar no ranking, também reforçou a importância da velocidade e eficiência dentro do processo. O treinamento e a sensibilização dos profissionais envolvidos e a celeridade do processo se mostram fundamentais para mitigar estes riscos.

Os resultados também demonstraram a importância de uma comunicação adequada entre a equipe médica e a família – riscos 3 e 6 no ranking. Ambos os problemas de comunicação com a família – notícia sobre a morte encefálica e abordagem para comunicar o direito à doação – estão entre os dez principais riscos constatados, o que pode afetar a porcentagem de recusa de doação de órgãos pelos familiares. No Brasil, essa porcentagem foi de 43% em 2016 (ABTO, 2016), enquanto na Espanha, referência mundial em doação e transplante de órgãos, em 2000, foi de 21,5%. Estes resultados ressaltam a importância do treinamento adequado da equipe que mantém contato direto com as famílias dos potenciais doadores.

Da mesma forma, ao relacionar as dimensões ocorrência e severidade (Gráfico 1), os quatro principais riscos identificados pelos coordenadores das CTEs são: 1. Falha na abordagem para notificar a família sobre a morte encefálica; 2. Falha na realização da entrevista familiar sobre a possibilidade de doação; 3. Falha na identificação de um potencial doador; e 4. Parada cardíaca.

Estes resultados reforçam a grande importância do treinamento dos profissionais que têm contato direto com os familiares. Aspectos como habilidades de comunicação, sensibilidade e empatia se mostram fundamentais neste momento tão doloroso para os familiares abordados. O risco 3 demonstra a importância do treinamento técnico da equipe envolvida no processo e o risco 4, por sua vez, reforça a importância do treinamento técnico da equipe e da celeridade e fluidez do processo.

Os resultados apontados neste estudo têm profundas implicações gerenciais por fornecerem claras indicações dos principais riscos enfrentados em todo o processo de doação-transplante no país, auxiliando os gestores em saúde a concentrar e alocar recursos no desenvolvimento de suas tarefas, além também de prover válidas orientações sobre onde as iniciativas de mitigação de riscos devem ser implementadas e assim maximizar seus impactos.

 

Confira o depoimento da agora mestre pelo COPPEAD, Jessica Silva de Almeida.

 

*A dissertação, intitulada “Análise de Risco do processo de doação-transplante no Brasil”, foi orientada pela Profa. Claudia Araujo, coordenadora do Centro de Estudos em Gestão de Serviços de Saúde (CESS/COPPEAD), e defendida em 23/01/2018. Estiveram também presentes na banca de defesa o professor do COPPEAD, Dr. Kleber Figueiredo, e o professor do CEFET-RJ, Dr. Rafael Paim.

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