Artigo publicado em journal internacional por pesquisadores do CESS/COPPEAD e da UNIFESP reforça matérias exibidas na mídia sobre a importância de indicadores de resultados na área de doação e transplante de órgãos.
A mídia tem trazido boas notícias quanto ao processo de doação-transplante de órgãos no país em 2017: o Brasil bateu recorde nacional em número absoluto de transplantes (27 mil transplantes realizados); Santa Catarina foi recorde estadual em número de órgãos doados (com 282 doadores de múltiplos órgãos) – dados apresentados no Jornal Nacional deste mês; e o Rio de Janeiro bateu recorde em janeiro deste ano, com 129 transplantes de órgãos e tecidos humanos realizados, o maior número de procedimentos realizados desde o lançamento do Programa Estadual de Transplante (PET-RJ), em 2010 – matéria do Jornal do Brasil publicada em 23/03. O programa estadual de transplantes de Santa Catarina é coordenado por Joel de Andrade e o PET-RJ foi coordenado até julho de 2017 por Rodrigo Sarlo, ambos médicos e doutorandos do COPPEAD/UFRJ na área de Gestão em Serviços de Saúde. Os resultados relatados na matéria são baseados em indicadores de eficiência amplamente utilizados nas atividades de doação-transplante de órgãos no Brasil e no mundo, como o número de doadores por milhão de habitantes, número de pacientes em fila de espera, número absoluto de transplantes e porcentagem de autorizações familiares a partir do número total de entrevistas realizadas.
Esse foi o tema do artigo publicado pelas pesquisadoras do Centro de Estudos em Gestão de Serviços de Saúde – CESS/COPPEAD, Profa. Claudia Araujo e Marina Martins, em parceria com as pesquisadoras Profa. Bartira Roza e Profa. Janine Schimir, da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, na Revista Panamericana de Salud Pública. O artigo, intitulado “Indicadores de eficiência no processo de doação e transplante de órgãos: Revisão sistemática da literatura”, teve como objetivos verificar os indicadores utilizados para acompanhar e controlar o processo de doação e transplante de órgãos e elaborar um painel para tipificação dos indicadores descritos na literatura da área. Os autores realizaram uma busca sistemática da literatura nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), EBSCO, Emerald, Proquest, Science Direct e Web of Science. Foram utilizados os descritores “eficiência”, “indicadores”, “doação de órgãos”, “captação de órgãos”, “transplante de órgãos” e seus correspondentes na língua inglesa. Dos 344 artigos retornados pela busca, foram selecionados e revisados para análise dos indicadores de eficiência 23 artigos originais publicados de 1992 a 2013.
Foram identificados 117 indicadores de eficiência, os quais foram agrupados por similaridade de conteúdo e divididos em três categorias (Tabelas 1 a 3): (1) indicadores relacionados à demanda por órgãos e aos recursos dos hospitais envolvidos no processo – 24 artigos (20,5%); (2) indicadores relacionados à doação de órgãos – 71 artigos (60,7%); (3) indicadores relacionados ao processo de transplante e o acompanhamento pós-transplante – 22 artigos (18,8%). O alto número de indicadores encontrados revela que há pouca padronização dos indicadores e que o foco está predominantemente na etapa da doação (60,7% dos artigos), sugerindo lacunas na mensuração da eficiência em outros pontos do processo. Além disso, ainda há carência de indicadores em importantes etapas, como na distribuição de órgãos (por exemplo, indicadores de perda de órgãos) e no pós-transplante (por exemplo, indicadores de sobrevida e qualidade de vida após a cirurgia de transplante).
O estudo permitiu identificar aspectos ainda pouco explorados sobre o tema, explicitar a diversidade de indicadores utilizados e destacar as etapas do processo que precisam de novos indicadores para monitorar e melhorar o processo de doação-transplante como um todo. Além disso, a potencialidade do agrupamento, com avaliação integrativa dessas medidas, reside na reflexão sobre o tema de gestão da eficiência — ainda pouco abordado na literatura da doação-transplante — e na aplicação futura dos indicadores de forma mais efetiva, seguindo critérios de padronização, validação e monitoramento, de modo a permitir a mensuração do desempenho, identificação de ineficiências e tomada de ações de melhoria do processo.