Inovação e cuidados em saúde estão intimamente ligados quando se visa criar valor aos pacientes e à sociedade. No entanto, o que se vê muitas vezes são inovações que encarecem o tratamento e se tornam inacessíveis para grande parte da sociedade, pressionando os custos em saúde e fomentando uma grande discussão sobre acesso. Por outro lado, as tecnologias móveis estão permitindo a criação de plataformas de serviços que ligam tecnologia e inovação para fornecer alta disponibilidade e custos mais baixos na saúde.
O relatório sobre aplicativos de saúde do mHealth App Developer Economics (2016), publicado no site Research2Guidance.com, indica que, entre 2015 e 2016, o número de aplicativos em saúde aumentou de 20% para cerca de 55%. De todos os aplicativos lançados, em torno de 43% estão alcançando o sucesso esperado. Além disso, 56% dos aplicativos visam pessoas com doenças crônicas. De acordo com o relatório de 2017 do site Statistica.com, 44% dos adultos americanos utilizam aplicativos para monitorar atividade física; 42% para ajudar em dieta e nutrição; 35% para autodiagnostico; 26% para medir sinais vitais, como pulsação, pressão sanguínea, calor corporal e glicemia; 25% para instruções de fitness, como listas de exercícios; 23% usam para aliviar o estresse e promover a paz interior, através de meditação, exercícios de yoga leves ou atividades similares; 21% para rastrear doenças e administração de medicamentos; 17% para situações de emergência; e 7% usam aplicativos para ajudar a parar de fumar.
Essa tendência é positiva para o setor de cuidados de saúde? As tecnologias móveis têm o potencial de reduzir custos e efetivamente aumentar o acesso da população aos serviços de saúde? Este foi o tema de dissertação de Paulo Pinto, Ms.C. COPPEAD, sob a orientação do Prof. Eduardo Raupp. Para responder a estas perguntas, foi realizada uma ampla revisão da literatura dos últimos 10 anos sobre a inovação móvel em saúde e foram entrevistados empreendedores de quatro startups brasileiras proeminentes em saúde: Guepardo Sistemas, Oxiot, HelpBell e VivaBem. As entrevistas foram avaliadas seguindo um framework baseado em teorias de inovação em serviços, inovação disruptiva e ecossistemas de inovação.
Os resultados indicam que a adoção de tecnologias móveis na saúde é uma tendência positiva, que pode gerar valor para os pacientes por representarem soluções simples e econômicas para os usuários. Dessa forma, tais tecnologias têm grande potencial de impactar a prestação de serviços em saúde. No entanto, as startups ainda enfrentam problemas em relação à sua gestão e modelos de negócios, o que pode comprometer o sucesso destas iniciativas no médio e longo prazos. Os dados da Statistic Brain apontam que 56% das startups de educação e saúde sobrevivem depois de 4 anos de fundadas (Gráfico 1).
Gráfico 1 – Percentual de empresas ainda sobreviventes após 4 anos vida, por setor
Fonte: Statistic Brain
https://www.statisticbrain.com/startup-failure-by-industry/
De acordo com reportagem de maio de 2017 da revista Forbes, três fatores dificultam o crescimento e o sucesso das startups em saúde: regulação do setor; dificuldade em atrair investidores; e dificuldade de integração dos dados. Para a revista, os investidores sentem que não têm alavancagem suficiente para ajudar uma startup de saúde a crescer. Além de extensas regulamentações governamentais, os compradores (hospitais, consultórios médicos, farmácias, etc.) frequentemente demoram a comprar tecnologia. Os investidores estão animados com o espaço por causa do potencial de demanda, mas não o suficiente para assumir centenas de milhões de dólares de risco. Ainda de acordo com a Forbes, se você perguntar a qualquer time de startup de saúde digital sobre o aspecto mais importante de seus negócios, eles lhe dirão uma palavra: integração. O fato de um produto digital de saúde não poder funcionar isoladamente e de precisar de dados de hospitais ou consultórios médicos acrescenta complicação e desacelera a inovação.