Diante da escassez de recursos e aumento dos custos no setor, a eficiência em serviços de saúde constitui tema de extrema relevância prática e acadêmica. Em levantamento realizado em 2014 pelo portal americano Bloomberg para medir a eficiência dos serviços de saúde de 48 países, o Brasil ocupou o último lugar do ranking. Os critérios utilizados no cálculo são a expectativa de vida, a média do custo do serviço de saúde e quanto esse custo representa em relação ao PIB per capita de cada país.
Ainda no âmbito da eficiência em serviços públicos de saúde, pesquisa realizada pelos professores e pesquisadores Claudia Araujo, Peter Wanke e Marina Martins mensura a eficiência dos serviços hospitalares e ambulatoriais prestados pelo SUS nos municípios do Rio de Janeiro. Utilizando uma metodologia ainda não explorada na área de serviços de saúde (TOPSIS – Technique for Order of Preference by Similarity to Ideal Solution e Redes Neurais), o estudo ranqueou os 92 municípios do Rio de Janeiro, entre 2008 e 2013, de acordo com sua capacidade de maximizar os resultados (outputs) dos serviços hospitalares e ambulatoriais e de minimizar os recursos consumidos (inputs) para a prestação desses serviços. A pesquisa também investigou o impacto de variáveis contextuais – tamanho da população, GDP per capita e natureza jurídica dos hospitais – nos níveis de desempenho obtidos.
Os outputs considerados foram o número de procedimentos diagnósticos, clínicos e cirúrgicos realizados em ambiente ambulatorial e de internação e o número de consultas médicas domiciliares realizadas pelo Programa Saúde da Família. Os inputs foram representados pelo número de leitos cirúrgicos e clínicos, número de equipamentos para suporte da vida e diagnóstico por imagem, número de médicos, de enfermeiros e demais profissionais.
Os resultados da pesquisa (Tabela 1) indicam um baixo escore médio de desempenho em cada ano, o que significa dizer que há espaço para melhorias através da melhor alocação de recursos, sem que haja necessidade de aumentar os recursos (inputs) utilizados. A abordagem de benchmarking utilizada permitiu a identificação dos municípios com melhor e pior desempenho, sinalizando locais em que os serviços hospitalares carecem de maior atenção, e locais em que o bom desempenho e práticas gerenciais bem-sucedidas podem servir de referência para os demais.
Tabela 1 – Escore médio de eficiência dos municípios do RJ
(escores TOPSIS – mínimo 0.0; máximo 1.0)
2008-2013 | 2008 | 2009 | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 | |
Média | 0.506 | 0.494 | 0.491 | 0.490 | 0.492 | 0.532 | 0.533 |
Mediana | 0.504 | 0.495 | 0.491 | 0.494 | 0.496 | 0.534 | 0.544 |
Máximo | 0.649 | 0.629 | 0.622 | 0.610 | 0.613 | 0.649 | 0.647 |
Mínimo | 0.382 | 0.382 | 0.389 | 0.389 | 0.385 | 0.399 | 0.398 |
Desvio Padrão | 0.055 | 0.051 | 0.051 | 0.049 | 0.048 | 0.054 | 0.052 |
Adicionalmente, foi identificado que a extensão territorial e o tamanho populacional têm impacto negativo no desempenho obtido pelos serviços de saúde dos municípios. Os municípios de grande extensão territorial e grandes distâncias geográficas podem apresentar maior complexidade na gestão da demanda e alocação de recursos para os serviços de saúde. Além disso, municípios maiores em geral servem como canal de apoio para aqueles menores e menos desenvolvidos. Assim, o desempenho é comprometido pela atração de casos graves de outros locais. Por outro lado, um maior número de hospitais privados nos municípios está associado a melhores níveis de desempenho, o que pode estar associado a uma estrutura administrativa mais flexível e ágil dos hospitais privados, em termos de processos de compras, incorporação tecnológica contratação de funcionários, planejamento orçamentário, etc.
A identificação de fatores contextuais que impactam o serviço de saúde dos municípios sinaliza a importância de políticas públicas de saúde com caráter integrativo, considerando a importância de fatores sociais, econômicos e características organizacionais dos hospitais onde os serviços de saúde são prestados.