Profª. Claudia Araujo, Coordenadora do CESS/COPPEAD, participou como coordenadora do Painel “Visão da Academia e do Regulador”, que ocorreu no evento Complexo Econômico-Industrial da Saúde: Blockchain, Segurança, Sigilo e Interesse Público – Dados na Saúde, realizado pelo Inlags, Entropia e Hi-5 Negócios em Saúde. Participaram deste painel Karla Coelho, diretora da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Prof. Denizar Vianna, Professor Associado da UERJ, e Prof. Egberto Gaspar, Professor Titular e Sub-Reitor de Pós-graduação e Pesquisa da UERJ.
O evento foi realizado no dia 04 de julho, no Rio de Janeiro, e contou com a participação dos principais líderes do setor de saúde para discutir os desafios e oportunidades relativos à gestão de dados em saúde. Assim, após a palestra de abertura, ministrada pelo Prof. Carlos Gadelha, Coordenador de Prospecção da FIOCRUZ, houve a palestra de Renata Aranha e Thiago Canellas, respectivamente fundadora e atual CEO da Entropia, sobre “Blackchain na Saúde: o EverSafe como modelo”, seguida pelos painéis sobre Visão Jurídica, Visão da Academia e do Regulador, Visão do Prestador e Visão do Usuário.
No painel “Visão da Academia e do Regulador”, Prof. Egberto Gaspar falou sobre a necessidade de parceria entre universidade e empresas, Karla Coelho destacou a importância dos dados na regulação em saúde e sobre a política de dados abertos da ANS, e o Prof. Denizar Vianna focou na contribuição do blockchain para otimizar pesquisa clínica (recrutamento e seleção de pacientes, compartilhamento de dados etc), reduzindo os custos da pesquisa e, consequentemente, do medicamento na hora da comercialização. A Profª. Claudia Araujo, por sua vez, destacou o crescimento exponencial de pesquisas acadêmicas sobre o tema “blockchain na saúde” e apresentou os resultados preliminares de uma pesquisa bibliométrica longitudinal, que está sendo desenvolvida no CESS/COPPEAD sobre o tema. O objetivo da pesquisa é verificar a evolução, ao longo dos anos, das pesquisas acadêmicas sobre o assunto. Para isto, foram analisadas seis bases de dados internacionais: Ebsco, Emerald, ProQuest, Web of Science, PubMed e Science Direct. Os termos de busca foram “health ou healthcare ou health care e blockchain”. A análise longitudinal foi realizada utilizando software SciMat.
Ao todo, foram localizados 144 artigos, que possuíam os termos de busca no corpo do texto, sendo oito escritos em 2016, 52 em 2017 e 84 nos seis primeiros meses de 2018 (Gráfico 1). Estes resultados demonstram o crescente interesse da academia sobre o tema.
Gráfico 1 – Evolução no número de publicações sobre blockchain e saúde entre 2016 e 2018
Dos 144 artigos analisados, apenas 49 (34%) tiveram como foco principal o setor de saúde e, como pode ser observado no Quadro 1, os principais temas tratados nesses artigos foram: como aplicar o Blockchain na saúde? – desafios e oportunidades da aplicação da ferramenta no setor de saúde; questões relativas a privacidade/controle/segurança dos dados; prontuário eletrônico; e pesquisas clínicas. Os outros 95 artigos (66%) tratavam de outros assuntos, como mercado financeiro, por exemplo, e citavam de forma periférica saúde em alguma parte do texto.
Quadro 1 – Temas pesquisados nos artigos com foco em blockchain na saúde
Alguns resultados preliminares merecem destaque: (1) a grande maioria dos artigos foi publicada em journals cuja área é “ciência da computação”, denotando o enfoque ainda técnico das publicações; (2) apenas um artigo tratou da “digital literacy”, ou seja, contemplou o aspecto humano na adoção do blockchain; (3) alguns artigos têm como foco questões relativas à indústria farmacêutica, como falsificação de medicamentos, biofármacos e pesquisas; (4) dos 144 artigos, apenas um estudo foi realizado no Brasil, na Universidade Federal do Paraná; e (5) em geral, as publicações foram realizadas em journals de alto fator de impacto, o que representa alta qualidade acadêmica.
Em resumo, pode-se constatar o grande interesse da academia sobre o tema e que ainda há várias dúvidas sobre como extrair os benefícios do blockchain na saúde. Além disso, observa-se que o foco ainda está na ferramenta e em seus aspectos técnicos – na compreensão de sua potencialidade – e nos desafios, principalmente no que diz respeito à privacidade e segurança dos dados de saúde. Aspectos humanos, que são fundamentais para a adoção bem sucedida de novas tecnologias, ainda não estão sendo pesquisados na academia. Por outro lado, a grande diversidade de temas pesquisados nos 49 artigos focados em saúde reforça a certeza de que há diversos benefícios a serem extraídos do blockchain. As discussões que ocorreram no evento reforçam esta certeza. Vamos em frente!

