São várias e emocionantes as histórias e depoimentos de pessoas e famílias que passaram pela experiência do transplante de órgãos. Diferente de outras terapias médicas, o transplante de órgãos depende do ato de doação e, portanto, é essencial que haja uma maior conscientização e sensibilização das pessoas com relação a esse ato.
É com esse objetivo que se realiza em setembro a campanha de conscientização sobre a doação e transplante de órgãos, o chamado “Setembro Verde”, e no dia 27 do mês temos o “Dia Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos”. Ao longo do mês, diversas ações em diferentes estados do país são realizadas para chamar atenção a importância da doação de órgãos e tecidos.
No Brasil, a lista de espera de transplante de órgãos é gerenciada pelo Sistema Nacional de Transplante (SNT), formado pelas Centrais Estaduais que coordenam o processo a nível local. Analisando o histórico do Brasil, tanto a quantidade de doadores quanto de transplantes realizados tem apresentado crescimento, e em alguns estados, a fila de espera pelo transplante de determinados órgãos foi praticamente ou totalmente zerada, como Alagoas com transplante de coração e Amazonas com transplante de córnea.

Apesar da melhoria nos números nos últimos anos, o Brasil ainda apresenta um saldo negativo com relação ao número de transplantes necessários e o número de transplantes realizados para vários órgãos.
Além de estar abaixo de vários países em termos de doadores efetivos, o que indica o grande potencial para doação existente no país, há diversas perdas que ocorrem ao longo do processo de doação e muitos órgãos não são aproveitados. Dos doadores potenciais identificados, somente cerca de 30% são convertidos em transplantes.
Essa e outras questões foram discutidas no último dia 27 de setembro, pelo CESS/COPPEAD, na segunda edição de 2018 do Debates em Saúde. O evento trouxe principalmente a temática dos Riscos no processo de doação-transplante de órgãos, com objetivo de promover o debate e a conscientização através de palestras realizadas por profissionais e especialistas na área.
Debates em Saúde – Riscos no Processo de Doação-Transplante de Órgãos
O Debates em Saúde – Riscos no Processo de Doação-Transplante de Órgãos começou com palestra de Alexandre Barroso, que compartilhou a sua experiência com o transplante órgãos e emocionou os que estavam presentes. Alexandre foi três vezes transplantados, é autor do livro “A última vez que morri” e hoje integra o Projeto Asas do Bem, da Associação Brasileira das Empresas Aéreas – ABEAR. Através desse projeto, ele viaja o Brasil compartilhando sua vida e dando palestras para conscientizar sobre a doação-transplante de órgãos.

O Professor Rafael Paim, Presidente da Adote e Pós-Doutor pelo CESS/CCOPPEAD, falou do ponto de vista de um engenheiro de produção sobre os diversos riscos envolvidos no processo de doação-transplante de órgãos. Ele trouxe uma definição de riscos e destacou os riscos existentes na comunicação com a família do possível paciente doador. Sobre isto, apontou a necessidade oferecer a possibilidade de doação à família de forma humanizada, qualificada e no tempo adequado. Ele também destacou a necessidade de busca das melhores práticas, compreendendo onde estão ocorrendo os erros e como evitar que tais erros no processo se repitam. Rafael Paim finalizou sua palestra falando sobre gestão da vida e como uma gestão adequada é capaz de reduzir os riscos no processo de doação-transplante de órgãos no Brasil.

O Coordenador do Serviço de Pesquisa – PET/Programa Estadual de Transplantes e doutorando do COPPEAD, Rodrigo Sarlo, trouxe um olhar clínico para a análise da temática. Em sua palestra ele abordou quais são os riscos para o potencial receptor de órgãos e indicou que o primeiro risco para este é o de não receber um órgão. Também foram apresentados dados da OMS, e outros riscos foram listados, como o recebimento de um órgão infectado, a sobrevida pós-transplante e até a morte na fila de espera. Além disso, Rodrigo Sarlo abordou a necessidade de princípios éticos no processo de doação-transplante de órgãos.

Joel de Andrade, Coordenador Estadual de Tx de Santa Catarina e Doutorando do CESS/COPPEAD, falou sobre as perdas no processo de doação no Brasil. Em sua apresentação, trouxe dados da ABTO e de fontes internacionais. Ele apontou as diferenças regionais existentes no processo de doação-transplante de órgãos no Brasil e apresentou gráfico com motivos das perdas no Brasil, por região do país. Também tratou das perdas ocorridas na não identificação de morte encefálica. Ele apontou a necessidade de capacitação dos profissionais da saúde que atuam nessa área, para identificação de potenciais doadores e minimização de perdas, e finalizou apresentando dados da Espanha, que atuou como benchmarking para a gestão de Santa Catarina

O Professor Adjunto da Faculdade de Medicina da UFRJ, Eduardo Rocha, finalizou o ciclo de palestras mencionando a relação do brasileiro com a morte, como as pessoas abordam a questão da morte e o interesse por prolongar a vida. Ele também abordou o que chamou de a cultura do super-herói, que gira em torno do transplantado e do cirurgião. Apresentou o caso de Derek Fitzgerald, transplantado cardíaco, que se tornou atleta e ficou conhecido como Iron Man. Trouxe, ainda, uma abordagem do sistema de transplantes, falando sobre as questões políticas envolvidas e os riscos dos programas de transplantes dos estados brasileiros. Segundo ele, o risco de um programa de transplante não crescer, não existir e morrer é o maior risco que o sistema possui.

O evento terminou com um debate entre os que estavam presentes e muitas questões foram levantadas. O Debates em Saúde – Riscos no Processo de Doação-Transplante de Órgãos veio para lançar luz sobre essa importante temática e entrar nos ciclos de palestras que abordam o assunto dentro do contexto do Setembro Verde.
