Uma vez que a procura de transplantes é maior do que a oferta, os países e regiões precisam de estabelecer estratégias para implementar sistemas de transplante eficientes. (Martin et al., 2019) Dado que o principal factor limitativo para a realização dos procedimentos é a disponibilidade de órgãos e tecidos, a estratégia central é optimizar o processo de doação de órgãos e tecidos, obedecendo aos princípios éticos e legais Alguns países são reconhecidos por terem sistemas de transplante consolidados, o que só foi possível ao estabelecer um foco no processo de doação, especialmente no doador em morte cerebral (R. Matesanz et al., 2017).A cirurgia de transplante é normalmente realizada em hospitais distantes daqueles onde o potencial doador está localizado. Assim, é exigido um processo onde múltiplos profissionais e instituições estão envolvidos desde a identificação, diagnóstico de morte cerebral, pedido familiar, cirurgia de recuperação, atribuição e distribuição de órgãos são etapas altamente complexas e não necessariamente associadas (Manyalich et al., 2011). Ao contrário da doação de órgãos que só pode ocorrer enquanto há circulação sanguínea, a doação de tecidos pode ser realizada dentro de poucas horas após a paragem circulatória. (Muraine, 2002).Dois modelos de colheita tornaram-se mais implementados em todo o mundo e, por conseguinte, têm maior adesão, estudo e publicações científicas: o “modelo espanhol” baseado em coordenadores de transplantes internos (IHC) e o “modelo americano” baseado em organizações de colheita de órgãos (OPO). A diferença básica entre estes modelos refere-se à gestão do processo e à localização do especialista profissional em doação. (Rudge et al., 2012) A lei brasileira de transplantes permite a adesão dos 2 modelos para a obtenção no território nacional. A observação prática das inovações implementadas no Estado do Rio de Janeiro desde 2010 motivou o início de uma série de estudos e investigações locais para compreender estes fenómenos e procurar melhorar o processo local e alargar estes resultados (Lenzi et al., 2014). Procurámos estudar inovações organizacionais de uma perspectiva teórica, para uma investigação que pudesse acrescentar conhecimentos de uma forma original à área da doação de órgãos e tecidos no âmbito das teorias de organização da implementação da inovação. Identificámos muitas semelhanças entre o papel do IHC e percebemos que as suas actividades se enquadram perfeitamente nos modelos de gestores intermédios descritos na literatura (S. A. Birken et al., 2012) Ao longo dos 3 artigos que compõem esta tese, apresentaremos uma associação entre o papel do IHC e os gestores intermédios. O processo de implementação do programa do IHC será apresentado no contexto da doação de órgãos e tecidos para trazer uma vasta lista de actividades e estratégias levadas a cabo pelos coordenadores de transplantes, que podem ajudar à implementação futura do IHC noutras unidades a nível local, mas também em várias outras regiões e países. Este trabalho fornecerá também uma contribuição teórica à teoria dos gestores intermédios, através da identificação de um novo domínio em que os coordenadores de transplantes internos influenciam a sustentabilidade do sistema.