[Opinião de Especialista] Um Paradoxo na Saúde.

Share on linkedin
LinkedIn
Share on twitter
Twitter
Share on facebook
Facebook

Josier Marques Vilar, Presidente do IBKL e Presidente do CBEXS Rio, discorre sobre um paradoxo na saúde e destaca a necessidade de investirmos em formação técnica e comportamental em um ambiente cada vez mais tecnológico.

Tive um mestre que chamava a todos que conhecia ou não conhecia de Professor. Achava que fazia isso por não lembrar do nome do seu interlocutor. Acho que algumas vezes era isso mesmo, mas certa vez perguntei a ele porque chamava todos de professor, e ele me disse: “porque sempre temos alguma coisa a aprender com qualquer um”. Já Henri Ford, costumava dizer que “é preferível você qualificar e perder seu funcionário para a concorrência do que não capacita-lo e mantê-lo em sua organização”. Assim deveria ser na saúde também. Na saúde temos muitos problemas. Temos problemas de financiamento, problemas de governança e gestão, problemas de regulação, problemas com a intensa incorporação tecnológica, mas temos um, que considero a matriz de todos os males: pessoas mal qualificadas para suas funções. Se queremos de fato mudar o modelo de assistência à saúde que temos desenvolvido, e dar sustentabilidade ao sistema, temos de olhar as pessoas que nele trabalham, acolhe-las e qualificá-las para um novo mundo relacional, hoje muito baseado nas plataformas digitais, mas que, na saúde, não pode perder a essência humana. Se queremos interferir na qualidade de vida de uma população, muitos fatores podem contribuir para isto. Por exemplo, contribuem os fatores genéticos. Os fatores socioeconômicos. Os hábitos de vida. Todos eles contribuem de forma relevante para que uma população atinja uma boa qualidade de vida. Entretanto, um fator que pouco é reconhecido e que tem uma importância extremamente alta é a existência de bons serviços de saúde. Bons serviços de saúde fazem toda a diferença do mundo na qualidade de vida de uma população. Acolher os pacientes, diagnosticar, tratar e acompanhá-los no tempo e local correto são fundamentos das boas práticas assistenciais, mas, bons serviços de saúde somente se fazem com bons profissionais de saúde. E bons profissionais de saúde têm obrigatoriamente de possuir boa qualificação técnica, mas essencialmente têm de também possuir boa qualificação comportamental. Saber entubar um paciente em insuficiência respiratória aguda é tão importante quanto desenvolver habilidades de comunicação e de diálogo, de tomada de decisão, de trabalho em equipe, de gestão de crise, de liderança inspiradora, de um gestual compatível com as expectativas do paciente e seus familiares, de compatibilizar os recursos disponíveis com a capacidade de oferta aos que deles necessitam, tudo isto faz parte desse aspecto comportamental, que pouco tem sido dado ênfase em nossa formação profissional. Equivocam-se os que afirmam que temos de fazer mais com menos. Não. Definitivamente não. Temos de fazer mais com mais. Com mais técnica, com mais atitude, com mais diálogo, com mais racionalidade, com mais conhecimento e treinamento, com mais humildade de compartilhar o que não sabe e aprender com todos que executam tarefas distintas em nosso e em outros setores da economia. Somente assim, repensando o modelo de formação e investindo na qualificação de todos os profissionais de saúde, mudaremos o jogo que estamos perdendo. De pouco adianta incorporarmos as melhores e mais novas tecnologias de investigação diagnóstica e terapêutica existentes no mundo, construirmos os mais ricos e suntuosos prédios hospitalares, possuirmos os melhores e mais caros e exclusivos planos de saúde, se não temos pessoas capacitadas do ponto de vista técnico e do ponto de vista comportamental para responder aos imensos desafios de nosso século digital e pós-moderno. Acho que é por aí que temos de caminhar. O problema é que como disse Descartes em seu livro O discurso do método: “o bom senso é a coisa mais bem distribuída no mundo. Todos acham que têm e estão satisfeitos com o que possuem”, e é aí que mora o problema: raramente queremos mudar um modelo que julgamos o correto e não queremos reconhecer as mudanças inevitáveis que ocorreram no mundo pós Bill Gates. E, por isto mesmo, por ser tão tecnológico, temos de paradoxalmente investir mais na humanidade, no conhecimento, nas habilidades e no relacionamento das pessoas como únicas e possíveis saídas para nossos dilemas.

Confira Também

Ex-Alunas do GPS recebem medalha de Mérito Pedro Ernesto

Marise Mariano da Cunha Paz e Sandra Maria Barcellos recebem a Medalha de Mérito Pedro Ernesto, dada pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Trata-se da mais importante homenagem que o Rio de Janeiro faz para pessoas que se destacam na sociedade.

6 respostas

  1. Concordo plenamente. Não podemos perder a essência humana nas relações na Saúde. O ser humano necessita ser capacitado não apenas tecnicamente, mas também em suas habilidades no trato com o paciente.
    A empatia é crítica para a efetividade das abordagens em saúde!

    1. Agradecemos pelo seu comentário!
      O CESS trabalha para promover o conhecimento. Temos o compromisso de gerar conteúdo de qualidade para os nossos leitores.
      Continue conectado nas nossas redes para ter acesso ao que estamos produzindo.

    1. Nos alegramos ao saber que o conteúdo do CESS tem sido motivo de inspiração!
      Continue conectado às nossas redes para ter acesso ao que estamos produzindo.

    1. Agradecemos pelo seu feedback!
      A interação com as nossas publicações nos impulsiona a produzir um conteúdo de qualidade.
      Continue conectado às nossas redes para ter acesso ao nosso material.

Os comentários estão desabilitados.

Nós usamos cookies

Eles são usados para aprimorar a sua experiência. Ao fechar este banner ou continuar na página, você concorda com o uso de cookies. Saber Mais